A Grande Luta Global: Por Que o Ataque ao Irã Vai Além do Oriente Médio

Os recentes ataques dos Estados Unidos a importantes instalações nucleares iranianas, anunciados pelo ex-presidente Donald Trump, não são um evento isolado. Na verdade, eles fazem parte de um tabuleiro de xadrez global muito maior, onde forças de "inclusão" e "resistência" se enfrentam, moldando o destino de nações e redefinindo alianças. É um drama que se estende da Europa Oriental ao Oriente Médio, com ecos que ressoam por todo o planeta.

6/24/20255 min read

A Grande Luta Global: Por Que o Ataque ao Irã Vai Além do Oriente Médio

Os recentes ataques dos Estados Unidos a importantes instalações nucleares iranianas, anunciados pelo ex-presidente Donald Trump, não são um evento isolado. Na verdade, eles fazem parte de um tabuleiro de xadrez global muito maior, onde forças de "inclusão" e "resistência" se enfrentam, moldando o destino de nações e redefinindo alianças. É um drama que se estende da Europa Oriental ao Oriente Médio, com ecos que ressoam por todo o planeta.

Para entender o que realmente está acontecendo, precisamos dar um passo atrás e conectar os pontos. A invasão da Ucrânia por Vladimir Putin em 2022, visando aniquilar sua democracia, e os ataques a Israel em 2023 pelo Hamas e por representantes iranianos no Líbano, Iêmen e Iraque, são manifestações claras dessa mesma luta. De um lado, temos países e líderes que veem valor no comércio global, na cooperação contra ameaças mundiais e em uma governança mais justa. Do outro, regimes que prosperam no conflito, usando-o para manter seu povo sob controle, seus exércitos fortes e seus tesouros fartos.

O Efeito Dominó: Ucrânia, Israel e a Teia de Conflitos

Pense no cenário antes desses eventos. A Ucrânia estava a caminho de se juntar à União Europeia, prometendo a maior expansão de uma Europa livre desde a queda do Muro de Berlim. Isso significaria uma potência agrícola, tecnológica e militar adicionada ao Ocidente, isolando ainda mais a Rússia. Paralelamente, o governo Biden estava próximo de selar uma aliança de segurança com a Arábia Saudita, que normalizaria relações com Israel, enquanto Israel iniciaria conversas sobre um possível Estado Palestino. Essa seria a maior integração do Oriente Médio desde o tratado de paz entre Egito e Israel.

O que aconteceu em seguida não foi coincidência. Putin invadiu a Ucrânia para deter o primeiro movimento. O Hamas e outros aliados iranianos atacaram Israel para impedir o segundo. É como se a ascensão das forças de inclusão tivesse provocado uma reação violenta das forças de resistência.

É crucial entender que Irã e Rússia não são aliados por acaso. Teerã tem fornecido à Rússia os drones que devastam a Ucrânia. É a mesma guerra, com os mesmos objetivos: um mundo seguro para autocracias e teocracias, livre de liberdades pessoais, de um Estado de Direito e de uma imprensa livre, e onde o imperialismo russo e iraniano possa prosperar sem questionamentos.

A China no Jogo: Um Pé em Cada Campo

E a China nesse cenário? Pequim joga nas duas ligas. Sua economia depende de um mundo inclusivo e em crescimento, mas sua liderança política mantém laços fortes com o mundo da resistência. Por exemplo, a China compra petróleo do Irã, a maior fonte de receita externa de Teerã, que por sua vez financia grupos como Hamas e Hezbollah. Essa receita representa cerca de metade dos gastos do governo iraniano. Ao mesmo tempo, a China se preocupa que um Irã nuclearizado possa um dia armar separatistas muçulmanos em Xinjiang. É uma dança delicada de interesses.

Oriente Médio: A Batalha por Inclusão Regional

No Oriente Médio, a luta entre inclusão e resistência é ainda mais visceral. Desde 1979, com a Revolução Islâmica no Irã e a abertura do porto de Jebel Ali em Dubai (que se tornou um hub global), a região tem sido palco de uma disputa titânica. De um lado, estão os Estados dispostos a aceitar Israel, desde que haja progresso com os palestinos, e que buscam integrar a região mais profundamente com o Ocidente e o Oriente. Do outro, as forças de resistência lideradas pelo Irã, que buscam expulsar influências ocidentais, a existência de Israel e os governos pró-americanos.

O Irã, de forma astuta, tem construído uma rede de exércitos por procuração no Líbano, Síria, Iêmen e Iraque. Isso permite que Teerã controle indiretamente esses países sem arriscar um único soldado iraniano, usando sírios, libaneses, iraquianos, iemenitas e palestinos para morrerem por seus interesses. A verdade é que os problemas no Oriente Médio não são apenas produto da ocupação israelense, mas também do imperialismo iraniano.

A Esperança da Mudança: Arábia Saudita e um Novo Caminho

No entanto, há um sopro de mudança. O surgimento do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, nos últimos oito anos, tem sido um fator crucial. Sua missão, ainda que não declarada abertamente, é reverter as tendências puritanas que dominaram a Arábia Saudita e que foram exportadas para a região. Ao reformular a Arábia Saudita como um motor de comércio, investimento e reforma do Islã, ele adiciona um peso vital aos integracionistas do mundo árabe. Embora imperfeito, cometeu erros graves, como o assassinato de Jamal Khashoggi, mas sua reversão do fundamentalismo saudita de 1979 é de extrema importância.

É por isso que, por trás dos panos, muitos sunitas e xiitas no Líbano e no Iraque podem estar torcendo discretamente pelas ações contra o Irã. A ausência da influência maligna iraniana é um pré-requisito para que esses países reconstruam suas nações com líderes decentes e menos manipulação ideológica estrangeira.

Israel e a Complexidade da Dualidade

A situação de Israel é um exemplo perfeito de como duas coisas contraditórias podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Israel é uma democracia, com muitos cidadãos que desejam fazer parte do mundo da inclusão. No entanto, seu governo atual, considerado o mais extremista de sua história, aspira abertamente a anexar a Cisjordânia e possivelmente Gaza. Essa ambição representa uma ameaça fundamental aos interesses americanos, israelenses e judaicos globalmente.

É possível elogiar as ações de um líder contra um regime opressor, como o Irã, ao mesmo tempo em que se critica suas ações internas que minam a democracia ou a paz. A complexidade do cenário exige essa dualidade de pensamento e ação.

O Caminho para a Paz: Uma Estratégia Abrangente

Para que as forças de integração triunfem na região, as ações militares são necessárias, mas não suficientes. O verdadeiro golpe de misericórdia contra o Irã e todos os que resistem – e a base para que países como Arábia Saudita, Líbano, Síria e Iraque normalizem relações com Israel – seria uma estratégia abrangente. Isso incluiria um cessar-fogo em Gaza em troca da libertação de reféns, a entrada de uma força de paz árabe, e o início de um processo para a criação de uma estrutura governamental palestina confiável, com a suspensão da construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia.

Se os esforços para reduzir o poder do Irã forem combinados com a construção de uma solução de dois estados e o apoio contínuo à Ucrânia contra a Rússia, então sim, teremos uma contribuição histórica para a paz, a segurança e a inclusão tanto na Europa quanto no Oriente Médio. É uma luta global que exige uma visão global.